São Thomé passou por aqui!
Não tinham escrita e contavam - de pai para filho - alguns ensinamentos do pregador, como o de que: "a doutrina que eu agora vos prego, perdê-la-ei com o tempo. Mas, quando depois de muitos tempos, vierem uns sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago, ouvirão os vossos descedentes essa doutrina".
A citação foi feita em 1639 pelo padre jesuíta Antonio Ruiz de Montoya, que, percorrendo o sertão paraguaio e o atual Estado do Paraná, acompanhado de sua cruz, procurava remontar os passos de "Pai Zumé", visitando locais onde existiam pegadas centenárias, que ele, unindo suspeitas próprias às lendas dos indígenas, acreditava ser do apóstolo São Tomé - aquele que quis ver as chagas de Cristo na primeira aparição deste aos apóstolos, após a ressurreição, como ensina a Bíblia.
Os nativos que transmitiam a lenda ao longo do tempo foram os primeiros a sensibilizar-se com a causa cristã, ao ver os jesuítas aparecerem em suas aldeias, condenando os enormes haréns e obrigando todos a se batizar, assistir missas, rezar, cantar etc.
Tendo ou não cruzado a região há quase dois mil anos atrás, pregando, São Tomé e sua lenda ajudaram em muito a implantação das primeiras reduções que iriam constituir a florescente república que atualmente poucos conhecem - a dos guaranis, nosso primeiro estado industrial, cultural e militar na América Latina, com bases teocráticas.
As Peregrinações de Thomé
Na África - Em
21 de dezembro de 1470 (Dia de São Thomé), os portugueses João de
Santarém e Pero de Escobar, no arquipélago frontal à Guiné Bissau
(África) fundaram São Tomé e Príncipe, duas ilhas de uma só República
Democrática abençoada sob o signo do Santo Apóstolo.
Na Índia - No
século XVI, a peregrinação ao túmulo de Thomé, na Índia, era mais
intensa que ao de Thiago, apóstolo-guerreiro sepultado em Compostela
(Espanha). Assim como no Brasil, até o século XVII quando Espanha
dominou Portugal.
Não foi novidade para os portugueses as informações sobre a tumba de apóstolo-atleta na Índia, fato que já era muito citado na Europa durante a Idade Média, inclusive, pelo lendário navegador, Marco Pólo, em suas mirabolantes viagens e descobertas orientais.
Santuário de São Thomé de Meliapor (Índia), construído por D. Nuno da Cunha no local da morte e do sepulcro do Apóstolo Atleta.
As relíquias encontradas e a sepultura do Apóstolo Thomé,
estão protegidas no museu do mosteiro de Leipzig.
Na América - O
apóstolo Thomé, aquele que só acreditava no que via e tocava, esteve na
América do Sul e realizou feitos memoráveis. Quando os portugueses
chegaram à Índia, ouviram informações do povo nativo, sobre as pegadas
deixadas pelo apóstolo Thomé em diversos lugares do Oriente, as quais
também foram encontradas quando da descoberta da América, mais
notadamente no Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru, pelo trajeto secular do
Peaberu. o Sagrado Caminho de São Thomé.
Mapa Peregrino de São Thomé
O
Caminho do Peaberu, estreita estrada primitiva, com cerca de cinco mil
quilômetros, que une o litoral brasileiro ao altiplano peruano, era
intensamente usado, conservado e defendido pelos povos das nações Tupi,
Guarani e Inca, que tinham um certo domínio ascendente sobre as demais
tribos, obra estradeira atribuída aos conhecimentos de São Thomé, pelo
qual deixou marcas de sua passagem.
Notíicias - A primeira ocorrência sobre a presença de São Thomé no Brasil foi publicada em 1507, no mapa do alemão Waldseemüler, onde registra, claramente: Serra S. thome, S. pauli e S.vincete acima do Rio de cananoni.
A
primeira versão conhecida da presença de um discípulo de Jesus em
terras sulamericanas é citada pela Nova Gazeta Alemã, que se reportou à
viagem do navio armado por Dom Nuno Manuel e Cristóvão de Haro, á
América, e que no dia 12 de outubro de 1514 atracou de volta, na Ilha da
Madeira.
A
notícia publicada na Alemanha foi filtrada pelo editor, que estava a
bordo daquele navio, ao ouvir o que os tripulantes falavam da costa
atlântica brasileira e dos nativos ali encontrados aos milhares, os
quais se referiam ao homem branco Sumé e às recordações de São Thomé
passadas de geração a geração, acrescentando na matéria, que os
silvícolas até: ”quiseram mostrar aos portugueses as pegadas
de São Thomé no interior do país. Indicam também que têm cruzes pela
terra adentro. E quando falam de São Thomé chamam-lhe o deus pequeno,
mas que havia outro deus maior (...). No país chamam freqüentemente a
seus filhos Thomé", e citam o pregador como Pay Sumé, Xumé ou Zumé.
A
peregrinação e as obras de São Thomé se difundiram rapidamente e de tal
forma que, em 1516, no Brasil-Colônia comentava-se da sua passagem
pelas trilhas do Peaberu, de costa a costa da América do Sul, caminho
que, segundo jesuítas, foi aberto pelos nativos sob orientação técnica
do Santo Apóstolo.
São Tomé- PR - Entre Terra Boa e Guaíra tem uma cidade com nome que honra o santo, a qual surgiu a beira do Caminho do Peaberu
São Tomé- PR - Entre Terra Boa e Guaíra tem uma cidade com nome que honra o santo, a qual surgiu a beira do Caminho do Peaberu
Campo Mourão – PR - Existe
a Gruta da Santa Cruz (Campo Mourão - PR), à margem do Caminho do
Peabiru, que guarda restos do cruzeiro de cedro, que se acredita, foi
“plantado” por São Thomé Apóstolo.
Wille, Rose e Sinclair dentro da Gruta
A
gruta substituiu a centenária capelinha de pau-a-pique, que sofreu um
incêndio em 1960 e, no mesmo lugar, foi erigida uma gruta de pedras,
pelo devoto, Ville Bathke, de saudosa memória, que guardou a relíquia em
seu interior e sonhava em construir um santuário consagrado a São
Thomé, neste local.
Testemunhas
contemporâneas relatam benesses e milagres recebidos por muitos
mourãoenses neste espaço sagrado, que se destaca no Cerrado Mourãoense –
quase esquecido - onde existe um longo trecho do Caminho e a marca da
passagem da trilha milenar, pelo raso do Ribeirão 119, em direção ao
Município de Peabiru-PR.
As pegadas - Existem
registros de pegadas de São Thomé cravadas em rochas de diversos
lugares do litoral brasileiro: Cananéia/São Vicente (SP), Itapoá (BA),
na praia do Toque Toque; Itajuru (RJ) próximo a Cabo Frio e Paraíba,
onde Frei Jaboatão, da Congregação dos Frades Menores, afirmou que viu
pegadas no lugar do Grojaú de Baixo, há cerca de 42 km de Recife (PE),
Cruzeirinho em Farol (PR) e em Alto Alegre próximo a Campo Mourão.
Infelizmente
o hábito dos crentes em Thomé, que tem o costume de agredir as pedras
marcadas, fragmentá-las e fazer relíquias sagradas, fez desaparecer a
maior parte dessas formas em baixo relevo. A história registra, que
estas rochas serviram, inclusive, de referenciais em documentos
oficiais, como as cartas de doação de terras pela coroa portuguesa aos
fidalgos donatários. O padre Manoel da Nóbrega, em Cartas ao Brasil
(1549), afirma ter visto junto a um rio, “as marcas pisadas de Sumé”.
Os
famosos vestígios de cruzes e pés humanos calcados em pedras foram
mostrados pelos índios aos primeiros portugueses, que chegaram ao
Brasil. Em
alguns lugares, como em São Gabriel da Cachoeira (AM), os moradores,
ainda hoje depositam velas e fazem preces em torno de uma forma de
pegada cravada em uma rocha. Uns a atribuem a um anjo, outros a Pay
Sumé.
Inscrições
iguais são encontradas na Bolívia, Brasil e Peru, atestam a presença
do apóstolo místico, que partiu em direção aos Andes pelo Sagrado
Caminho do Peaberu, que São Thomé ensinou os nativos a construí-lo, com
arte e primor.
Peaberu de São Thomé, trecho recuperado perto de Pitanga - PR
Está
longa estrada primorosamente conservada passou a ser conhecida em
Portugal como o Sagrado Caminho de São Thomé, visitado e largamente
usado pelos europeus depois das travessias de Alejo Garcia, Pero Lobo,
Cabeza de Vaca e outros aventureiros castelhanos e lusitanos, nos
séculos XVI e XVII. Nessa época o Caminho de São Thomé era mais famoso
que o de San Thiago de Compostela.
Compostela
Guaranis,
tupis e incas se referiam à memória do misterioso Thomé como: “um
homem, alto, branco, barbado, portador de uma pesada cruz e da nova
doutrina cristã”, apontado pelos jesuítas como o santo civilizador dos
povos mais distantes da Terra Santa.
Segundo
narrativas indígenas, “Pay Sumé se entristeceu com a situação hostil e
adversa, e foi embora por sobre as águas do oceano”, da mesma forma como
veio à América.
Mulher Carió oferece alimento ao viajor
No Brasil era venerado há centenas de anos, bem antes da dita descoberta do Novo Mundo.
Ensinou aos nativos sulamericanos o cultivo da terra, os princípios morais e de respeito humano. Em
algumas tribos seus ensinamentos foram rejeitados violentamente, a
ponto do Apóstolo ser ameaçado de morte e agredido diversas vezes, como
ocorreu entre os tupinambás de onde fugiu. Perseguido pelos ferozes canibais, atravessou o Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru, cumprindo sua missão evangélica.
O Apóstolo
– pelas feições, foi identificado na Índia, Ceilão, Camboja e na costa
da China, convertendo os povos orientais ao cristianismo. É possível
apontar muitas semelhanças entre o lendário Chimé conhecido pelos
budistas da cidade sagrada de Angkor Vat (Camboja) e o Pay Sumé, Zumé,
Zomé ou Xumé, dos nativos da América do Sul.
Cultos primitivos - Entre
os tupinambás visualiza-se o culto à Monan, uma espécie de deus
semelhante ao cristão. Mas existia um outro chamado Maire (o
transformador). Tido como um espírito desenvolvido e conhecedor da
natureza, sua ação civilizadora se manifestou na introdução da
agricultura entre os avós dos tupinambás e outros povos nativos, aos
quais ensinou o trato à terra e lhes entregou sementes de vegetais, para
germinar e produzir a alimentação de seus descendentes, exatamente como
fez Sumé com os guaranis, Zumé com os incas, Zomé entre os tupis e
Aimará com os aimorés e tamoios, que foram encontrados pelos
descobridores, cultivando e colhendo: milho, mandioca, feijões,
abóboras, erva-mate e plantas medicinais. Conhecido
como “transformador” dos usos e costumes primitivos, aos que não o
obedeciam se impunha de maneira severa e isso ele fez, por vezes, de
maneira cruel, provocando revolta e ódio contra si, de selvagens que não
aceitavam os castigos e mudanças de hábitos arraigados e, irados contra
Sumé, pelas punições e “transformações”, tentavam matá-lo.
As
crenças e cultos a maire-monan ou Pay Sumé, entre os nativos
brasileiros foram constatados e registrados pelos jesuítas, que viam em
Sumé a figura de São Thomé, um espírito superior que fora, há centenas
de anos, guia dos povos nativos da América. Alguns loyolistas se diziam
sucessores do Apóstolo e a maioria dos selvagens acreditava, porque
conheciam a profecia transmitida às gerações anteriores.
Para os nativos locais, Sumé também impôs algumas leis severas, condenando a poligamia e o canibalismo.
São Thomé das Letras MG) (foto)
é uma cidade mística, edificada sobre uma montanhas de pedras - as
mesmas utilizadas na construção de casas, no calçamento das ruas, no
feitio do artesanato e de utensílios domésticos. Isso dá razão a um dos
nomes pelos quais é conhecida: "Cidade das Pedras". Nos arredores da
cidade é possível desfrutar dos mistérios das grutas e do frescor das
cachoeiras que se espalham por locais diversos. Acredita-se
que São Thomé seja um dos sete pontos energéticos da Terra, o que atrai
para o lugar sagrado: sociedades espiritualistas, científicas e
alternativas, o que dá razão a outro nome: "Cidade Mística", onde São
Thomé apareceu na gruta e escreveu, a carta de alforria do escravo João
Antão, que ali estava escondido, depois a levou e foi assinada pelo seu
patrão, admirado com tão bela caligrafia.
A Gruta em São Thome das Letras (MG)
A cidade de Sumé
está localizada no sul da Paraíba, sub-região de Cariris Velhos, a 250
Km de João Pessoa e a 130 Km de Campina Grande. O clima é seco, com
temperatura acima dos 25'C, na maior parte do ano, e uma população
calculada em 19 mil habitantes.
Três Pedras
situa-se nas divisas de Bofete, Pardinho e Botucatu (SP), próximas ao
Caminho do Peaberu de São Thomé. A maior atração é esse lado místico.
Estudiosos garantem que ocorrem fenômenos inexplicáveis. Pay Sumé lutou
contra o demônio na gruta das Três Pedras e os jesuítas tentaram se
refugiar no local, quando perseguidos e mortos pelos nativos mas antes,
esconderam na pedra do meio, um enorme carregamento de ouro.
Três Pedras
Thomé disse aos ameríndios:
"Vosso
povo viverá em rixas e se espalhará por tribos dispersas por toda a
extensão da terra selvagem e áspera, que vos espera; sofrereis por
muitas e muitas gerações a perseguição de povos estrangeiros vindos de
fora e se abaterá sobre vós a tirania e a desgraça e, até que venha a
união de vossas tribos, muito tempo se passará". “A doutrina que eu
agora vos prego, perdê-la-eis com o tempo, mas quando, depois de muitos
tempos vierem uns sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago,
ouvirão os vossos descendentes esta (mesma) doutrina”.
A
profecia de Pay Sumé dita aos povos: Tupi, Guarani e Inca veio a se
concretizar, com as invasões, ataques e chacinas em massa praticadas,
impiedosamente, por europeus aventureiros, ávidos por riquezas.
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